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Início da via 3 chapas |
Estávamos seguindo com a
caminhonete em direção à ponte quebrada. Antes de iniciar a caminhada já
começava o esforço, era preciso arrastar as várias árvores caídas que
bloqueavam o caminho.
Em um determinado ponto uma
árvore muito grande impediu a passagem. Descemos da caminhonete e arrumamos as
nossas coisas. Ricardo, que voltaria com o carro, nos desejou boa sorte,
corrigiu que talvez não era bom necessitar de sorte. Respondi que a sorte
começa quando a sabedoria termina, rimos com o ditado improvisado.
Éramos quatro: eu , Elcio,
Otaviano e o Cruel. Atravessamos a ponte e iniciamos a caminhada, era 1 hora da
manhã do dia 28 de agosto. Após 3 horas estávamos na base da via Mar de
Caratuvas. Não era a primeira vez que tentaríamos escalar a via 3 Chapas. Na
semana anterior já havíamos chegado próximo da base da via. Mas alguns
imprevistos e o erro de cálculo com o tempo obrigariam o retorno.
Subimos uns 80 metros pela linha da
via Mar de Caratuvas e começamos uma diagonal para a esquerda, tentando encontrar
as marcas de nossa passagem anterior. Desde esse ponto fora 1 hora e meia de
escalaminhada até chegar ao final da crista que torna possível visualizar a
linha da via. O final da aproximação foi a sessão mais cansativa, pois tivemos
que “nadar” por mais1 hora e meia entre
taquaras.
Dividimos o
grupo em duas duplas- eu e o Elcio, Otaviano e o Cruel – e iniciamos a escalada.
O Elcio
começou na ponta da corda. A linha começava por uma língua de vegetação e,
quando começava a rocha, 2 chapas marcavam uma seção mais exigente – regletes e
veios de cristal delicados. Após costurar a primeira chapa quebrou uma agarra e
o Elcio teve uma queda. Depois passou o lance e seguiu por uma transversal que
marcava o início do sistema de fendas.
A próxima
enfiada era uma chaminé que envolvia técnicas diversas - entalamento, oposição,
chaminé – e a todo o momento incomodava o peso da mochila sendo arrastada.
Dentro da chaminé existia um sistema de fendas para proteção móvel.
A próxima
enfiada era a mais difícil e bonita da via. Elcio começou a enfiada utilizando
os dois sistemas de fenda que seguem em paralelo. Utilizava a técnica de
tesoura apoiando-se nas duas faces de rocha. Em um ponto é necessário entrar
completamente na fenda de off-width da direita, utilizando também a técnica de
oposição com os pés apoiados em tufos de capim.
Era hora de
eu iniciar a guiada. A próxima enfiada passava por uma canaleta com vegetação,
na parte mais vertical havia um tramo difícil de entalamento de mãos. Enquanto
escalava uma informação não saía da minha cabeça: era necessário prestar
atenção pois, em determinado momento, era preciso sair da sequência de fendas e
seguir pela vegetação. Comecei então a seguir para a direita e, como a corda
havia terminado, precisamos escalar em simultâneo para chegar a chapeleta, a
última proteção fixa da via.
Armamos a
reunião na chapeleta e segui entre ilhas de vegetação e aderências para
retornar ao sistema de fendas. Faltava um tramo de vegetação frágil para
instalar uma proteção móvel. Comecei a me equilibrar com cuidado e, enquanto tentava subir, o capim
ia se despedaçando em minhas mãos. Pensei que iria cair e nesse momento fui
puxado pela gravidade. Nesse instante tentei imaginar se a chapeleta aguentaria
a queda 15 metros em fator 2. Instintivamente consegui deter a queda
agarrando-me à vegetação de um pequeno platô. Esse era o momento prenunciado no
início da jornada. A sorte estava iniciando e a sabedoria terminando.
Olhei para
o Elcio, ele parecia um pouco preocupado. Respirei e recomecei a escalar. Subi
novamente sobre o frágil capim e dessa vez consegui passar o lance.
Segui por
uma canaleta de mato e, quando percebi a proximidade do fim da parede, segui
pela esquerda subindo por uns blocos. Era o fim das dificuldades de escalada, o
relógio marcava 11:30 hs, havíamos feito a segunda repetição da via.
Tentamos nos
hidratar e comer algo. Como estava muito quente e não havia sombra resolvemos
continuar pelo cansativo vara-mato de caratuvas até chegar ao cume do
Ibitirati.
Chegamos ao
cume do Ibitirati e aproveitamos a paisagem. Olhando um pouco encontramos a
última chapa da via Eco Xiitas que alguns anos antes havíamos escalado.
No cume do
Pico do Paraná, enquanto esperávamos nossos amigos, descansamos e aproveitamos
a paisagem. Às 17:00 hs o Otaviano e o Cruel chegaram – terceira repetição da
via. Foi uma ocasião especial pois também chegavam o Fábio, o Ermínio,o Gean o
e Glaucio, que haviam escalado a via Mar de Caratuvas. Será que em outra
ocasião tantas pessoas haviam escalado no mesmo dia o Ibitirati? Não sei a
resposta, mas 8 pessoas era um número fora do comum.
Começamos a
descida e nesse final de jornada – com o cansaço acumulado – surgia
internamente o dúvida: por que escalamos?
Depois de
anos escalando não sei a resposta, mas Lionel Terray, há décadas, definiu corretamente
essa atividade como a Conquista do Inútil - ele tinha razão.
Próximo à
fazenda do Pico Paraná estava o nosso amigo Valdesir nos esperando. Para nossa
alegria ele trazia cerveja e cachorro quente. Depois de tanto esforço esse era
o nosso paraíso. E como era simples!
Gostaria de agradecer os nossos amigos Ricardo e Valdesir que gentilmente providenciaram o
nosso transporte, obrigado.
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Elcio na reunião no final da primeira chaminé |
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Alessandro na penúltima enfiada |
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Encontramos a última chapa da via Eco Xiitas |
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Ibitirati ao final do dia |
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Paisagem privilegiada |
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Aproveitando o pôr do sol no cume do Pico Paraná |