sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Croqui do setor Rupestre - Piraí do Sul - PR

Localização das áreas de escalada do setor Rupestre




Informações gerais
Lembre-se sempre de algumas regras básicas quando visitamos um local de escalada:
-A escalada em rocha é um esporte perigoso: aceite os riscos e assuma a responsabilidade - eleja os objetivos de acordo com suas habilidades.
-Respeite a rocha, a ética local e as outras pessoas.
-Consulte os escaladores locais antes de abrir uma via.
-Traga de volta todo o lixo que produzir.
-Não abra novas trilhas, utilize as já existentes.
-Apoie as comunidades locais, sempre que possível adquira produtos da região.
-Respeite e proteja o caráter selvagem das montanhas e paredes.

A cidade de Piraí do Sul está situada no primeiro planalto paranaense e se localiza a 80 km de Ponta Grossa. O nome piraí é originário da língua tupi e significa peixe pequeno. A escarpa devoniana, com formações de arenito, é uma barreira natural que marca a fronteira entre os dois grandes planaltos paranaenses: o primeiro planalto e o segundo planalto. Nas paredes formadas pela escarpa estão localizadas algumas das mais admiráveis vias de escalada esportiva tradicional do Paraná.
O Rupestre é o principal setor do local que está cercado por outras paredes. Existem na proximidade outros setores com vias de escalada, como é o caso do setor Pote de ouro, com uma via aberta, o setor Unha de gato, com 13 vias abertas, e o setor Tião, com 2 vias.

Ética local
No setor Rupestre o tipo de escalada que se estabeleceu é a escalada esportiva tradicional, onde grande parte das vias possui somente pontos fixos na reunião. Nas vias que possuem alguma proteção fixa, o número de chapeletas é mínimo e elas estão instaladas em locais estritamente necessários para conectar os sistemas de fendas. As aberturas foram executadas predominantemente de baixo para cima.

Acampamento
O local de acampamento fica ao lado de onde são deixados os veículos, e distante em média de 40 minutos da base das vias. É bom trazer água para o consumo, pois existe um rio no local, mas devido aos animais – vacas, porcos – a qualidade da água é duvidosa.
Como se trata de uma propriedade particular, é importante avisar o proprietário – Vitorio Solek – sobre o acesso na propriedade para escalar. Zelar pela boa convivência com os habitantes locais é essencial, pois além de preservar o acesso aos locais de escalada também reflete uma atitude de respeito – a localização da casa do Sr. Vitorio está indicada no mapa de acesso.
Quando chove, chegar ou sair do setor sem um carro 4x4 fica complicado.
Acesso - parte1

Acesso - parte 2

Acesso - parte 3



Material*
Um bom rack de peças móveis é essencial para poder aproveitar todo o potencial do lugar:
- 2 jogos de camalot – #0.3 ao #4.
- 1 jogo de sttopers
- fitas longas.
*Podem ser necessárias algumas peças extras para algumas vias. As peças são mencionadas na descrição da via.
Setor Rupestre - parte esquerda. Somente as principais rotas estão indicadas.

Legenda



Área Cabeça de vaca
Área Feitiço de Áquila

Área Caco da viola

Área Sagarana


Área Moby Dick

Área Pinhão na Brasa








terça-feira, 6 de outubro de 2015

Oriente Médio em estilo tradicional


Não é somente na Europa ou nos Estados Unidos que os escaladores para ampliar os limites da aventura, escalam vias chapeleteadas utilizando somente material móvel de proteção. Um dos maiores exemplos dessa modalidade foi a ascensão da via Black Bean pelo escalador francês Arnauld Petit. No setor 3 de São Luiz do Purunã essa prática vem sendo realizada há algum tempo. Alguns exemplos dessa forma de ascensão são: Cicatriz – Elcio Muliki, Bicão – Alessandro Haiduke, Coliformes mentais – Elcio Muliki, Quando a mulher qué faz o que qué – Elcio Muliki e Alessandro Haiduke.
Apesar disso havia um projeto que habitava a mente dos escaladores. Há algum tempo que o Valdesir Machado falou que um dos seus desejos era escalar a via Oriente Médio 9A , integralmente com peças móveis. Naquele tempo ele era o único escalador a ter encadenado a via. Depois de anos de tentativa eu e o Elcio conseguimos encontrar uma solução para o crux e também encadenamos a via. Com isso o Elcio ao longo dos meses vinha ensaiando os movimentos para uma tentativa integral em móvel.
E foi nesse domingo – 04/10 – que o Elcio entrou muito concentrado e fez a primeira ascensão da via sem a utilização das chapas. O Valdesir recebeu uma injeção de ânimo e também entrou na via, havia esquecido todos os movimentos – como sempre o bom estilo Val -, mas com boa dose de critatividade completou a ascensão da via.
Essas escaladas são importantes pois a via Oriente Médio é um ícone do setor três, pela singularidade do movimento do crux.
Parabéns aos dois escaladores.
Seguem algumas fotos dessas escaladas:







sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Os 3 chapas - Ibitirati





Início da via 3 chapas
Estávamos seguindo com a caminhonete em direção à ponte quebrada. Antes de iniciar a caminhada já começava o esforço, era preciso arrastar as várias árvores caídas que bloqueavam o caminho.
Em um determinado ponto uma árvore muito grande impediu a passagem. Descemos da caminhonete e arrumamos as nossas coisas. Ricardo, que voltaria com o carro, nos desejou boa sorte, corrigiu que talvez não era bom necessitar de sorte. Respondi que a sorte começa quando a sabedoria termina, rimos com o ditado improvisado.
Éramos quatro: eu , Elcio, Otaviano e o Cruel. Atravessamos a ponte e iniciamos a caminhada, era 1 hora da manhã do dia 28 de agosto. Após 3 horas estávamos na base da via Mar de Caratuvas. Não era a primeira vez que tentaríamos escalar a via 3 Chapas. Na semana anterior já havíamos chegado próximo da base da via. Mas alguns imprevistos e o erro de cálculo com o tempo obrigariam o retorno.
            Subimos uns 80 metros pela linha da via Mar de Caratuvas e começamos uma diagonal para a esquerda, tentando encontrar as marcas de nossa passagem anterior. Desde esse ponto fora 1 hora e meia de escalaminhada até chegar ao final da crista que torna possível visualizar a linha da via. O final da aproximação foi a sessão mais cansativa, pois tivemos que “nadar” por  mais1 hora e meia entre taquaras.
            Dividimos o grupo em duas duplas- eu e o Elcio, Otaviano e o Cruel – e iniciamos a escalada.
            O Elcio começou na ponta da corda. A linha começava por uma língua de vegetação e, quando começava a rocha, 2 chapas marcavam uma seção mais exigente – regletes e veios de cristal delicados. Após costurar a primeira chapa quebrou uma agarra e o Elcio teve uma queda. Depois passou o lance e seguiu por uma transversal que marcava o início do sistema de fendas.
            A próxima enfiada era uma chaminé que envolvia técnicas diversas - entalamento, oposição, chaminé – e a todo o momento incomodava o peso da mochila sendo arrastada. Dentro da chaminé existia um sistema de fendas para proteção móvel.
            A próxima enfiada era a mais difícil e bonita da via. Elcio começou a enfiada utilizando os dois sistemas de fenda que seguem em paralelo. Utilizava a técnica de tesoura apoiando-se nas duas faces de rocha. Em um ponto é necessário entrar completamente na fenda de off-width da direita, utilizando também a técnica de oposição com os pés apoiados em tufos de capim.
            Era hora de eu iniciar a guiada. A próxima enfiada passava por uma canaleta com vegetação, na parte mais vertical havia um tramo difícil de entalamento de mãos. Enquanto escalava uma informação não saía da minha cabeça: era necessário prestar atenção pois, em determinado momento, era preciso sair da sequência de fendas e seguir pela vegetação. Comecei então a seguir para a direita e, como a corda havia terminado, precisamos escalar em simultâneo para chegar a chapeleta, a última proteção fixa da via.
            Armamos a reunião na chapeleta e segui entre ilhas de vegetação e aderências para retornar ao sistema de fendas. Faltava um tramo de vegetação frágil para instalar uma proteção móvel. Comecei a me equilibrar  com cuidado e, enquanto tentava subir, o capim ia se despedaçando em minhas mãos. Pensei que iria cair e nesse momento fui puxado pela gravidade. Nesse instante tentei imaginar se a chapeleta aguentaria a queda 15 metros em fator 2. Instintivamente consegui deter a queda agarrando-me à vegetação de um pequeno platô. Esse era o momento prenunciado no início da jornada. A sorte estava iniciando e a sabedoria terminando.
            Olhei para o Elcio, ele parecia um pouco preocupado. Respirei e recomecei a escalar. Subi novamente sobre o frágil capim e dessa vez consegui passar o lance.
            Segui por uma canaleta de mato e, quando percebi a proximidade do fim da parede, segui pela esquerda subindo por uns blocos. Era o fim das dificuldades de escalada, o relógio marcava 11:30 hs, havíamos feito a segunda repetição da via.
            Tentamos nos hidratar e comer algo. Como estava muito quente e não havia sombra resolvemos continuar pelo cansativo vara-mato de caratuvas até chegar ao cume do Ibitirati.
            Chegamos ao cume do Ibitirati e aproveitamos a paisagem. Olhando um pouco encontramos a última chapa da via Eco Xiitas que alguns anos antes havíamos escalado.
            No cume do Pico do Paraná, enquanto esperávamos nossos amigos, descansamos e aproveitamos a paisagem. Às 17:00 hs o Otaviano e o Cruel chegaram – terceira repetição da via. Foi uma ocasião especial pois também chegavam o Fábio, o Ermínio,o Gean o e Glaucio, que haviam escalado a via Mar de Caratuvas. Será que em outra ocasião tantas pessoas haviam escalado no mesmo dia o Ibitirati? Não sei a resposta, mas 8 pessoas era um número fora do comum.
            Começamos a descida e nesse final de jornada – com o cansaço acumulado – surgia internamente o dúvida: por que escalamos?
            Depois de anos escalando não sei a resposta, mas Lionel Terray, há décadas, definiu corretamente essa atividade como a Conquista do Inútil - ele tinha razão.
            Próximo à fazenda do Pico Paraná estava o nosso amigo Valdesir nos esperando. Para nossa alegria ele trazia cerveja e cachorro quente. Depois de tanto esforço esse era o nosso paraíso. E como era simples!


Gostaria de agradecer os nossos amigos Ricardo  e Valdesir que gentilmente providenciaram o nosso transporte, obrigado.
Elcio na reunião no final da primeira chaminé

Alessandro na penúltima enfiada



Encontramos a última chapa da via Eco Xiitas

Ibitirati ao final do dia

Paisagem privilegiada

Aproveitando o pôr do sol no cume do Pico Paraná