segunda-feira, 18 de maio de 2015

Pico Agudo II – Nova via



Este é um relato tardio, mas como diz o lema que talvez expresse alguma sabedoria: antes tarde do que nunca.
Rapel para chegar a base
Estávamos seguindo em direção a Piraí do Sul para conquistar novas vias. Éramos três: Élcio, Val e eu. No meio do caminho surgiu uma provocação, dei a ideia aos amigos para alterar os planos e seguirmos para o Pico Agudo com o intuito de conquistar uma nova via. Surgiu um problema: como não havíamos programado esse tipo de escalada, vários materiais estavam faltando: jumares, cordas fixas, um rack mais completo. Para combater as possíveis dúvidas recordei a máxima patagônica que diz: *Menos é mais. Até agora não sei se meus amigos aceitaram a aventura por concordarem ou simplesmente porque perceberam que não conseguiriam vencer a minha convicção – entenda-se teimosia. 
Acampamos na base da montanha . No outro dia bem cedo subimos até o cume para rapelar a via Porta para o Infinito e chegar à base da parede.
Chegamos  cedo à base da parede. Diante das alternativas para uma nova rota elegemos uma linha que seguia à esquerda da via “Porta para o Infinito”. O Élcio iniciou a escalada guiando a primeira enfiada.  O que parecia fácil revelou-se um 6 sup melindroso  que exigia um bom trabalho de jardinagem.
Quando chegamos a reunião percebemos que a linha mais direta  teria mais uma enfiada independente e depois conectaria com a outra via.  Eu estava relutante em abrir uma variante e insisti que havia observado que à esquerda havia uma sequência de fissuras para continuar uma linha independente.
O Val guiou uma curta enfiada transversal, armou a reunião e pediu para liberar a segurança – com certeza havia encontrado uma continuidade de fissuras.  Novamente pegou a ponta de corda e conquistou uma enfiada de 7a que ao final passava por uma grande quantidade de blocos instáveis e a reunião foi feita em uma árvore.
Chegou minha hora de guiar. O que eu via acima não era muito promissor, a fissura que estava seguindo desaparecia  e teria que fazer alguns movimentos mais exigentes para chegar a outra sequência de fissuras. As fendas estavam com bastante capim e foi preciso bastante trabalho para conseguir encaixar friends e nuts. O final da escalada passava por uma bela fenda de dedos.
Depois do cume ainda tivemos que carregar um peso extra. Algumas pessoas haviam acampado no cume do Pico Agudo e abandonaram muito lixo: barraca, saco de dormir, roupas, comida estragada. Fizemos a nossa parte descendo todo esse lixo, mas infelizmente percebemos que muitas pessoas insistem em deixar os rastros de sua passagem.
A via foi batizada com o nome É disso que eu estou falando e não possui nenhuma proteção fixa ou reunião fixa. Trata-se de uma excelente aventura que, seguindo a tradição, deve ser decidida em cima da hora.
*a expressão menos é mais pode ter diversas interpretações. De um lado pode ser interpretada como quanto menos equipamentos carregamos, mais rápido podemos escalar e maior é o comprometimento e a  aventura. A outra interpretação é que quanto menos coisas carregamos, maior é o sofrimento – menos comida significa mais fome, menos roupa mais frio...


Elcio descendo na escuridão

Paisagem privilegiada

Elcio iniciando a conquista

Elcio e a parede a ser superada

Val com o mar de nuvens ao fundo

Val em ação

Eu na última enfiada

Chegada ao cume

Croqui da via