Este é um relato tardio, mas como diz o lema que talvez
expresse alguma sabedoria: antes tarde do
que nunca.
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Rapel para chegar a base |
Estávamos seguindo em direção a Piraí do Sul para conquistar
novas vias. Éramos três: Élcio, Val e eu. No meio do caminho surgiu uma provocação,
dei a ideia aos amigos para alterar os planos e seguirmos para o Pico Agudo com
o intuito de conquistar uma nova via. Surgiu um problema: como não havíamos
programado esse tipo de escalada, vários materiais estavam faltando: jumares,
cordas fixas, um rack mais completo. Para combater as possíveis dúvidas
recordei a máxima patagônica que diz: *Menos
é mais. Até agora não sei se meus amigos aceitaram a aventura por
concordarem ou simplesmente porque perceberam que não conseguiriam vencer a
minha convicção – entenda-se teimosia.
Acampamos na base da montanha . No outro dia bem cedo
subimos até o cume para rapelar a via Porta para o Infinito e chegar à base da
parede.
Chegamos cedo à base
da parede. Diante das alternativas para uma nova rota elegemos uma linha que
seguia à esquerda da via “Porta para o Infinito”. O Élcio iniciou a escalada
guiando a primeira enfiada. O que
parecia fácil revelou-se um 6 sup melindroso
que exigia um bom trabalho de jardinagem.
Quando chegamos a reunião percebemos que a linha mais direta
teria mais uma enfiada independente e
depois conectaria com a outra via. Eu
estava relutante em abrir uma variante e insisti que havia observado que à
esquerda havia uma sequência de fissuras para continuar uma linha independente.
O Val guiou uma curta enfiada transversal, armou a reunião e
pediu para liberar a segurança – com certeza havia encontrado uma continuidade
de fissuras. Novamente pegou a ponta de
corda e conquistou uma enfiada de 7a que ao final passava por uma grande quantidade
de blocos instáveis e a reunião foi feita em uma árvore.
Chegou minha hora de guiar. O que eu via acima não era muito
promissor, a fissura que estava seguindo desaparecia e teria que fazer alguns movimentos mais
exigentes para chegar a outra sequência de fissuras. As fendas estavam com
bastante capim e foi preciso bastante trabalho para conseguir encaixar friends
e nuts. O final da escalada passava por uma bela fenda de dedos.
Depois do cume ainda tivemos que carregar um peso extra. Algumas
pessoas haviam acampado no cume do Pico Agudo e abandonaram muito lixo:
barraca, saco de dormir, roupas, comida estragada. Fizemos a nossa parte
descendo todo esse lixo, mas infelizmente percebemos que muitas pessoas
insistem em deixar os rastros de sua passagem.
A via foi batizada com o nome É disso que eu estou falando e não possui nenhuma proteção fixa ou
reunião fixa. Trata-se de uma excelente aventura que, seguindo a tradição, deve
ser decidida em cima da hora.
*a expressão menos é mais pode ter diversas interpretações.
De um lado pode ser interpretada como quanto menos equipamentos carregamos,
mais rápido podemos escalar e maior é o comprometimento e a aventura. A outra interpretação é que quanto
menos coisas carregamos, maior é o sofrimento – menos comida significa mais
fome, menos roupa mais frio...
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Elcio descendo na escuridão |
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Paisagem privilegiada |
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Elcio iniciando a conquista |
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Elcio e a parede a ser superada |
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Val com o mar de nuvens ao fundo |
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Val em ação |
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Eu na última enfiada |
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Chegada ao cume |
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Croqui da via |